A vida alheia
Quando as coisas estão difíceis e não tem jeito, tenho essa mania de pegar uma folha e começar a escrever todos os meus pensamentos, sabe, todos desorganizados mesmo, sem ordem alguma a não ser a que eu os penso (e confesso que mesmo assim até isso as vezes não consigo respeitar). E assim fujo um pouco de mim, fazendo parecer que meus problemas não são só meus, pois já se transbordaram em um papel, pois já transcrevi tudo para que outras pessoas possam tomar um pouco conta da minha vida, possam tirar um peso que eu não posso carregar sozinha ou uma dor que já não consigo mais aguentar.
E, quem sabe, não esteja aí a beleza dessa mania de viver um pouco da vida alheia, de tirar um pouco o peso que cada um de nós carregamos tão secreta e silenciosamente e que eu e esse meu estranho hábito tiramos e distribuímos um pouco por aí, assim, despretensiosamente, para quem queira pegar e cuidar por um instante ou pelo resto de sua vida… da vida alheia.
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